sábado, 23 de maio de 2009

As mulheres ainda são descriminadas no mercado de trabalho

As mulheres estudam mais e são responsáveis financeiramente por um número cada vez maior de lares. Apesar disso, os institutos de pesquisa do país mostram que elas ainda ocupam menos postos que os homens e têm salários mais baixos, mesmo quando desempenham a mesma função. As mulheres conquistaram mais espaço, mas ainda não conseguiram vencer as desigualdades quanto a salários e cargos.
Dados do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a participação da mulher na População Economicamente Ativa (PEA) aumentou 2,5%, em 2003, contra 1,6% dos homens. A taxa de atividade feminina no mercado de trabalho, porém, permaneceu inferior à masculina, 50,7% contra 72,9%.
Pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) realizada na Grande São Paulo, mostrou que a taxa de participação das filhas no mercado de trabalho cresceu 2,5% em 2004, passando de 53,3% do total do segmento para 54,6%. As esposas aumentaram em 0,7% sua participação, passando de 55,4% para 55,8%, mas a participação das chefes de família diminuiu 1,1%, passando de 60,3% para 59,6%.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), realizado a partir dos balanços sociais anuais publicados por 253 grandes e médias empresas de todo o país entre 2000 e 2003, a proporção de mulheres em cargos de chefia praticamente não se alterou, mantendo-se em 14%.
De acordo com estudo do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), por trás da inserção no mercado de trabalho existem, "além dos novos valores de igualdade entre os sexos, a necessidade de aumentar os rendimentos familiares, já que os trabalhadores vêm perdendo seu poder aquisitivo ao longo dos anos".
O número de mulheres empregadas em 2003 cresceu, segundo o IBGE, quatro pontos percentuais em relação a 2002, passando de 37,6% para 41,6%. No entanto, a taxa de desocupação em 2003 alcançou 9,7% com aumento em relação a 2002, em função da maior procura feminina por trabalho (12,3%), superior à dos homens em quatro pontos percentuais.
Segundo o IBGE, as mulheres têm uma média de tempo de estudo superior à dos homens. Em 2003, aproximadamente 55% das mulheres no mercado de trabalho concluíram pelo menos o ensino fundamental, enquanto 55% dos homens empregados não conseguiram terminar esse ciclo.
O aspecto positivo do nível de instrução não se reflete nos salários. Segundo a especialista regional em temas de Gênero da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Lia Abramo, a mulher ganha 30% a menos que o homem.
O IBGE confirma que as mulheres têm salários menores em todos os níveis de escolaridade. Em 2003, os homens com até três anos de estudo recebiam, em média, um salário de R$ 343,30 contra R$ 211 pagos às mulheres com o mesmo nível de escolaridade. Para aqueles com grau de instrução entre oito a dez anos de estudo, o salário médio pago foi de R$ 631,70 contra R$ 350,60 pagos às mulheres. Acima de 11 anos, a pesquisa mostra que a relação permaneceu inalterada. As mulheres recebiam 58,6% do rendimento dos homens com a mesma escolaridade.
A pesquisa do IBGE constatou também que 49% das mulheres ganhavam até um salário mínimo de rendimento. Segundo a coordenadora do estudo, Ana Lúcia Sabóia, parte delas está em cargos domésticos ou em ocupações de serviço, como cabeleireiras, depiladoras, manicures, professoras primárias ou enfermeiras. As regiões Sul e Sudeste, consideradas as mais desenvolvidas economicamente, apresentam as maiores desigualdades nos rendimentos. Em Santa Catarina, por exemplo, a média de rendimento mensal masculina é de R$ 985,10, e a feminina, de R$ 583,60.
Pesquisa realizada no Distrito Federal pelo Dieese mostro que, há 13 anos, os rendimentos femininos representavam, em média, 59,8% dos ganhos masculinos. As mulheres ganhavam em média, R$ 1.001, enquanto os homens recebiam R$ 1.674 (59,8%). Em 2004, a situação das mulheres apresentou uma melhora e seus rendimentos passaram a representar, em média, 70,8% dos ganhos dos homens. As mulheres recebiam, em média, R$ 1.006 enquanto os homens, R$ 1.421. "Note-se que, no geral, não houve um aumento relevante dos rendimentos femininos, mas sim um decréscimo nos rendimentos masculinos", diz o estudo.
Apesar de ganhar menos, as mulheres já são responsáveis por 30% dos lares brasileiros, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais de 2004 do IBGE. De 1993 a 2003, o percentual cresceu mais de 40% no Sul, a maior taxa entre as regiões brasileiras. No Nordeste e no Sudeste, o crescimento foi de 29%. A presença do cônjuge, no entanto, ainda foi um padrão dominante nos últimos dez anos. Foi destaque a redução do tamanho da família na década. A diminuição foi mais intensa no Nordeste, onde o número de filhos passou de 2,1 para 1,6.
A pesquisa do Dieese, em 2004, no Distrito Federal revelou que, quando as mulheres são chefes de família, respondem por 88,7% da renda familiar e; quando o chefe é o homem, a participação da mulher é de 43,6%. Em média, a renda feminina nos domicílios chefiados por homens em 2004 foi de R$ 1.295, enquanto nos domicílios chefiados por mulheres, o rendimento médio foi de R$ 1.363.
Um dos motivos para as desigualdades seria o fato de que contratar uma mulher sai mais caro para a empresa que contratar um homem. Uma pesquisa da OIT realizada em cinco países (Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai) mostrou que a afirmação não é verdadeira. Nos países pesquisados, o custo do emprego da mulher por causa dos benefícios (como licença maternidade) é em média de 2% da remuneração bruta mensal. No Brasil, é de 1,2%. Porém, esse custo não é pago pelo empregador, mas pelos sistemas de seguridade social.
Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos, especialista em estudos sobre a mulher no mercado de trabalho, a tendência brasileira é reduzir a discriminação porque o problema "é biológico, mas também cultural. No Japão, o papel da mulher na sociedade, historicamente, é a reprodução. Há países árabes onde a mulher não pode dirigir um carro. No caso do Brasil, o problema é muito mais leve que em outros países", ressalta.
Há três anos na presidência do sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, Norma Gebran Pereira, mãe de uma filha, conta que nunca sofreu discriminação na profissão ou passou por uma concorrência desleal. Para ela, "as mulheres estão passo a passo conquistando lugares e tendo oportunidade de mostrar sua capacidade e competência". Segundo ela, 90% dos engenheiros brasileiros são homens e não é fácil a luta das mulheres. "É uma jornada tripla, a gente se vira entre casa, marido, escritório e sindicato e, às vezes, se sente meio estafada, mas dá pra tocar. Os homens também estão dividindo tarefas. A luta hoje é de igual pra igual", lembra. (Agência Brasil)

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